sábado, 28 de agosto de 2010

O homem que sumiu do espelho

Foram-se os dias amenos, em que o ser livre e pleno era o grande objetivo e dádiva maior da vida. A ganância e a competição desmedida tudo corromperam, degradando as instituições, as relações interpessoais e, por fim, o espírito criativo. Nada mais se faz por mero prazer ou para o encanto dos sentidos. Tudo deve ter um propósito claro, conciso e definido – até mesmo a arte, não mais se justifica por si só. O capital dita a emoção. É a poesia da existência aprisionada pelo vil metal.
O sistema determina quando e qual emoção sentir. Diz ter a resposta para as dores e angústias que ele mesmo, em sua crueldade e insensibilidade criou. As pessoas se isolam em muralhas e tentam preencher o abismo em seus espíritos com matéria. O capital as dominou tão completa e irreversivelmente que nem mesmo o sofrimento, seja por um falecimento ou amor perdido é algo pessoal e íntimo nos dias de hoje. Em algumas partes do planeta já existem “shows de luzes terapêuticas” em funerais e “centros para recuperação de corações partidos”. Como pode a dor ou o amor ser curado, expresso ou entendido dessa forma?
Assuntos da alma tratados como mercadoria; reproduzidos em série em sites de relacionamento ou até mesmo de promessas virtuais. Padronizar a fé, o sentimento, os costumes. Indivíduo e coletivo se confundem da pior maneira que poderia ocorrer – não em busca do bem de todos (como seria desejado na política, por exemplo), mas num processo mecânico, de uniformização nociva, em que o eu e o você são basicamente o mesmo, sem nenhuma peculiaridade ou diferencial expresso, e pior: as pessoas querem que assim seja.
Até mesmo os jovens, símbolos naturais da contestação e da originalidade, tentam ser diferentes agindo todos da mesma forma. Vestem as mesmas roupas, copiam celebridades da moda (que por sua vez imitam umas as outras), lançam idéias e comportamentos que nada mais são além de releituras mal estruturadas das gerações anteriores. Bom exemplo disso são os “emos”, imitações dos “góticos”, que já eram uma cópia menos criativa dos “ultra-românticos”.
Não há originalidade. A sociedade de consumo impõe às pessoas que a felicidade só será alcançada agindo de determinada forma e tendo determinadas coisas. E elas, já engessadas no pensamento pela falta de exercício da criatividade e invenção, habituadas a já receberem formulado até mesmo o que devem pensar, aceitam.
A magia e o encanto de preparar um bolo em casa, escrever uma música ou pintar um quadro se foi. O artesão não expressa mais como ele se sente. Ele sente aquilo que o mercado quer – ou nem sente, apenas faz, como uma máquina.
A poesia pura e simples, a complexa oscilação de sentimentos própria da existência humana está se perdendo. O indivíduo não se conhece ou não admira mais suas virtudes e defeitos, a mistura e inata e tantas vezes incoerente que nos faz sentir toda a dor e a delícia de ser quem nós somos. Imperfeitos, mas únicos. 

"Respeitável público..."


Ano eleitoral. O que se vê por toda parte são rostos felizes e promessas de um futuro alvissareiro. O partido do governo vigente exibe rostos de crianças radiantes e a oposição se atém a atacar. É hora do picadeiro democrático. Cada vez mais a propaganda eleitoral se devia do seu real objetivo: Esclarecer. Encena-se tanto que muitas pessoas já ligam a televisão no horário reservado a esse fim para “rir com aqueles políticos malucos”. É um cenário degradante. Estão querendo vender (ou seria comprar?) a democracia, transformando seu nome em comédia, desmerecendo-a e ridicularizando.
Com conteúdo enlatado e evasivo, os políticos brasileiros vêm enganando a população há vários anos. Usando técnicas pré-fabricadas de centros publicitários (que profissionais são esses, que ajudam a lubridiar seu povo?) tenta-se conquistar votos como a consumidores. O espaço que deveria ser usado para as discussões, os debates sobre a situação do País a fim de mudá-la é preenchido com teatro, sorrisos falsos e promessas utópicas.  Como mudar dessa forma? Como pode o eleitor usar de seu senso crítico para discernir o melhor quando tudo que lhe é apresentado soa como fábula?
Não bastasse a corrupção e todos os meios obscuros de obtenção de votos que rodeiam os meandros políticos em época de eleição, o eleitor ver corrompida sua maior fonte de esclarecimento. Os partidos perderam sua identidade ou mascaram sua ideologia original a tal ponto que é impossível diferenciar o ruim do menos pior. Têm-se comércio. Assiste-se a um show de horrores. E quando no fim de tudo as máscaras caem é tarde demais.
Sem esclarecimento a grande massa alienada permanece a alimentar o esfacelamento do Estado brasileiro. Mas, como poderia ser diferente de desde a infância foram condenados a tal situação? O Brasil não muda não porque não pode ou por desleixo de seu povo. O Brasil não muda simplesmente porque é o mestre de cerimônias quem decide o início e o fim do show.

Não gosto das atividades imediatistas. Aprecio as atividades artesanais..construídas amalgamando conhecimento; Daqueles trabalhos que envolvem destreza..baseados na pesquisa sutil e precisa..que primam no detalhe para espelhar a totalidade. A restauração de livros, a alquimia em sua origem, a construção de um texto, a elaboração de um prato inusitado, estudar História...

Estudar é arte.
O prazer laborioso de que a alma nunca se cansa.
Confluir de idéias, ressoar de esperança.
É ver o todo na parte, no brilhar do estandarte,
Poesia criança.
Na obscuridade dos fatos, ressurgir nova luz no levar de uma dança.
É ser senhor impotente, do mundo vertente
Ao sonhar nova trama.
É ter o mundo nas mãos, sem nenhum tostão,
Despertar vida-drama.

(Luciana Carvalho)
A imprensa desempenha um papel elementar na formulação das decisões que determinam o curso a ser seguido pela sociedade. Ao passar a informação, os veículos de comunicação expõem o que está ocorrendo e despertam nossa atenção para diversas questões. Porém, isso, isoladamente, não é o bastante para modificar uma sociedade; é necessário que o indivíduo leia nas entrelinhas, e construa por si só a sua visão da realidade.
Ainda que em uma sociedade democrática, livre da censura e defensora da liberdade de expressão, a imprensa não está imune a influências ideológicas. A informação não chega pura ao seu receptor. Na maioria das vezes ela é manipulada para atender aos interesses de determinados grupos, omitindo os fatos que destoam de seus objetivos, ou ainda exibindo uma visão distorcida dos mesmos. Essa edulcoração dos acontecimentos só leva a sociedade a perder, pois ao fazê-la a imprensa deixa de cumprir o seu mais nobre propósito – esclarecer.
Assim, estando a imprensa tão permeada de arbitrariedades, é necessário que o indivíduo saiba realizar uma filtragem do que vê, desfrutando daquele que é talvez o maior mérito da mídia – o despertar do pensamento, da sede de saber. A partir da informação exposta, ir além; questionar, debater, tirar suas próprias conclusões. Engolir opiniões não produz transformações; é preciso, sobretudo, digerí-las. Um homem não se faz daquilo que sabe, mas das atitudes que toma a partir desse conhecimento. É do seu pensar que surgirão as inovações, as mudanças de que a sociedade tanto precisa.
Dessa forma, devemos atrelar informação e pensamento; não apenas repetindo idéias, mas produzindo as nossas próprias. Esta é a única maneira de efetuar-se uma real transformação social, pensando algo novo. Do contrário, do continuísmo de idéias, surgirá apenas o continuísmo de opressão.

Isso cria um cenário melancólico... Chuva, luz de velas (faltou luz), música lenta, cheiro de pipoca no ar.. Gostei. Me fez sentir como seria viver na Idade Média. Tudo era tão intenso, tão romântico...
Aqueles castelos lúgubres, escrever à penumbra de uma vela, escutando o arranhar delicado da pena no papel. Talvez por isso os mais belos poemas, as mais belas histórias de amor, datem daquele período. O contexto é inspirador por si só. Sem pressa, sem horários, sem correria. As pessoas tinham tempo para se dedicar as suas paixões, de vivê-las por inteiro; de ser, de SENTIR.
Sei que nem tudo era tão lindo assim, que a modernidade trouxe confortos e melhorias indiscutíveis; mas estou me referindo ao espírito humano, ao estado de alma. O mundo era mais bonito, mais delicado, mais CORTÊS. Enfim, mais poético. Havia guerras, mortes, injustiças, sofrimento, desigualdade, ganância, corrupção..., claro. Tudo isso, infelizmente, é inerente a raça humana e parece existir desde sempre. Só que antes desse alvoroço urbano-industrial, havia mais tempo para a humanidade em si.
Guerras de honra, em que os reis iam de peito aberto, à frente dos batalhões, lutar cara a cara com o inimigo, ao lado de seus subalternos; morrer COM eles, padecer ao que viesse ao seu lado, como um igual. Vivenciar o sentido da palavra lealdade. Ser bravo, corajoso, virtuoso. Um tempo em que um homem sem honra não era nada.
Hoje isso é o incomum, é o anormal, e tantas vezes uma atitude nobre é taxada de idiota. Como isso pôde acontecer? Eu não me conformo, eu não aceito, eu não posso me calar.

Às vezes tenho a impressão de não pertencer ao meu tempo... mas logo em seguida penso: Não deveriam ser esses valores atemporais?! Às vezes penso ter a missão de propagar essas idéias, de viver no meio do início de uma grande reviravolta na História, que realmente está tudo prestes a mudar, que talvez esteja ocorrendo o ensaio de um Iluminismo da Era Contemporânea, aqui, entre os pensadores da net...
Só que às vezes cansa. E se eu for só mais uma idealista fadada a morrer sem ver seu sonho realizado?!..

Mas não importa.
Me chamem de tola, sonhadora, o que for. Não ligo. Eu o sou sim, com o maior orgulho. E só enquanto respirar lutarei pelo que acredito.
O que une todas as coisas nessa misteriosa e perfeita harmonia? Tudo parece tão bem engrenado, o universo inteiro funcionando em uma sintonia plena e completa, de beleza única. Como alguns conseguem passar a vida inteira sem enxergar a perfeição complexa em que estamos envoltos? O nascer do dia, a forma como o sol vem surgindo do horizonte inimaginável e aos poucos vai tingindo de maneira ímpar cada pedacinho de nuvem, cada centímetro de vida. Os pássaros cantando uma melodia própria, que flutua no ar como se existisse por si só, aproveitando-se de toda a leveza e equilíbrio que lhe é inerente. Hoje eu vi o mundo pela primeira vez. Observei e descobri a peculiaridade magnífica de que são feitas as coisas mais simples. Então tive certeza: O universo é mágico.

Será que nossos governantes nunca leram Tomás Morus?!
Deveria ser obrigatória a leitura de Utopia para que se assumisse qualquer cargo representativo no País. Os conceitos de justiça, de ordem, de regimento da coisa pública como um todo que ali se encontram, são tão verossímeis que chega parecer um tanto quanto absurdo que não sejam colocados em prática.
Sigam as idéias de Morus e tudo(ou boa parte) estará resolvido. Aliás, dever-se-ia ir além. O estudo de sua obra deveria ser instituído como básico nas escolas. Os horizontes que seu texto desperta, o senso crítico, o espírito contestador nele incluso..
Utopia é um livro importante porque, sobretudo, nos ensina, nos dá vontade de pensar, de QUESTIONAR. ‘Não, não é assim mesmo não. Pode ser diferente. Está errado, e o errado não pode ser o comum nunca. ’ Há um modelo, um exemplo do qual partir.
Sim, é um livro, e como o próprio nome já diz, trata-se de uma utopia. Mas isso não significa que sua base, sua essência não deva ser levada em consideração, não possa ser posta em prática.
Um pouco de Utopia e mais decência na política. Um pouco de Utopia e um povo menos acomodado. Um pouco de Utopia e uma maior fé no amanhã.

Um trecho do livro:
“[...] vocês deixam desviar-se e deteriorar-se aos poucos o caráter das pessoas desde a primeira infância, e punem adultos por crimes cuja promessa garantida eles carregam desde os primeiros anos. Que outra coisa vocês fazem, pergunto, senão fabricarem vocês mesmos os ladrões que a seguir enforcam?”


Todo ano é isso. Compro a agenda, juro que vou escrever todos os dias e acabo não escrevendo nem a metade. Acho que é horror a ‘obrigação’ que isso implicaria. Não é assim que funciona, as idéias não podem ser limitadas a horário, momento ou local; isso acabaria com o encanto da coisa. Escrevo na mesa, em guardanapo, na mão, até em papel higiênico já escrevi. Não vou andar com a agenda o tempo todo, nem deixar de escrever por não tê-la em mãos. Como já disse repetidas vezes, essa é a minha maior paixão; e quando ela me toma, avassaladora, não há escapatória, fico desesperada em busca de meios de pô-la em prática. Já cheguei até a pedir caneta emprestada a estranhos no ônibus e começar a escrever feito louca, incontroladamente na mão. As pessoas se assustam, ficam de olhos arregalados, é engraçado. E na hora nem me dou conta do que estou fazendo, é tão natural como respirar; a poesia flui. Às vezes perco o que escrevi, ou nem guardo ou leio depois. Até porque não tenho esse objetivo. A escrita por si só já é minha causa e conseqüência, o meu meio e fim. É o que eu amo fazer, a minha mais pura essência. É o que há de melhor em mim.